Liberdade e o Direito de Expressão

Neste blog praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão, próprios de Sociedades Avançadas !

quarta-feira, 31 de março de 2010

Recorte da Imprensa


A vitória do mal-amado
por BAPTISTA-BASTOS

Uma inesperada combinação de timidez, pedanteria, tenacidade e decisão, eis o que subjaz à conquista da presidência do PSD por Pedro Passos Coelho. Contra ele tinha (tem) os grandes tubarões do partido, e verdetes especiais, levemente absurdos, abertamente renitentes. Cavaco detesta-o. A dr.ª Manuela não o suporta: de tal forma que, às escâncaras, escorraçou-o (e a Miguel Relvas) das suas preferências para o Parlamento. Jardim acha-o intolerável e manifesta o seu azedume sem dissimulação. Pacheco Pereira abomina-o. O dr. Rio execra-o. O dr. Sarmento odeia-o. O prof. Marcelo nem sequer sorri, para disfarçar, quando alude ao "companheiro". É um apreciável lote de inimigos, gente poderosa que nada realiza de graça, que procede segundo impulsos amiúde pouco claros - mas cujo comportamento tem tudo a ver com poder e mando.
Mudar foi o título do livro programático de Passos, e o estribilho que o acompanhou na campanha. Mas "mudar" quê e quem? Perguntas ociosas para um partido que vive de mecanismos de ocorrência, ausente de ideologia, afastado do "espírito de missão", unicamente propenso ao trânsito da "alternância" e em contínuo esforço para se manter ao nível da luz. A eleição não ameaçou esse poder nem esse mando. Deixou-os, somente, apreensivos. Que nomes irão revezar os nomes? Que nomenclatura irá substituir a nomenclatura?
Sentimo-nos tentados, por cansaço de Sócrates, por inércia mental, a aceitar uma nova variação dos rostos. Mas os rostos persistem em incrustar-se na nossa História, porque a demonstração da sua "legitimidade" consiste na sua permanência alternada. É óbvio que assistimos à dissolução de uma identidade política, e ao mimetismo linguístico revelador da fragilidade dos dois grandes partidos portugueses. A questão é: conseguirá Passos recuperar o lugar que pertenceu ao PSD, e foi sonegado, exaustivamente, por Sócrates? Finalmente: que posição no pódio deseja, hoje, o PS?, que se sente intimidado pelo novo presidente do PSD, mesmo sem este ter ainda tomado posse.
Há uma troca simbólica de nível, e 61% dos votos não correspondem a uma casualidade circular. O ódio a Passos, no partido, pode, curiosamente, juntar em seu favor as peças tresmalhadas. Viu-se, na noite da vitória, a recomposição das presenças. Pareciam os anacoretas no deserto que, subitamente iluminados, queriam ampliar o reino de Deus. Não há afecto, em política: há urgências e há necessidades de poder. E o poder dispõe de instrumentos que se expressam a si mesmos, numa rotina incansável, porque o poder não possui variantes. Amado ou odiado, Passos Coelho começou a ser um homem sob vigilância.

Submarinos já metem água!

Cônsul honorário de Portugal terá recebido suborno

Revista alemã «Der Spiegel» noticia que empresa lhe terá pago 1,6 milhões de euros. O contrato com o consórcio alemão aconteceu quando era primeiro-ministro Durão Barrososo e Paulo Portas ocupava o cargo de ministro da Defesa.

A edição electrónica da revista alemã Der Spiegel está a avançar que um cônsul honorário de Portugal terá recebido um suborno de 1,6 milhões de euros da Man Ferrostaal. Este dinheiro serviria para ajudar a concretizar a compra de dois submarinos por Portugal em 2004.
A Der Spiegel, segundo cita a agência Lusa, refere que a suspeita de corrupção recai contra a empresa germânica é «maior do que se pensava». A Ferrostaal terá «não apenas pago, ela própria, luvas durante anos, mas também ajudado outras empresas a organizar este tipo de pagamentos».
O German Submarine Consortium ganhou o contrato no valor de 880 milhões de euros referentes à entrega de dois submarinos Tridente em Novembro de 2003. A entrega destes navios a Portugal estará no centro o escândalo de corrupção, de acordo com a revista alemã.
O contrato com o consórcio alemão German Submarine Consortium (que integra a Man Ferrostaal) aconteceu numa altura em que era primeiro-ministro Durão Barrosos e Paulo Portas ocupava o cargo de ministro da Defesa.
A «Der Spiegel» assegura que o cônsul em causa terá «recebido 1,6 milhões de euros em luvas pela sua ajuda» na concretização do negócio, mas o seu nome não é identificado. Este mesmo diplomata terá sido responsável pela organização de uma reunião entre Durão Barroso e a administração da empresa, em 2002, segundo a revista.
As autoridades judiciais de Munique, que efectuaram várias buscas na passada quarta-feira na Ferrostaal, encontraram «mais de uma dúzia de contratos de consultoria suspeitos», que visavam «dissimular os canais de pagamento» para que «subornos pudessem ser enviados a responsáveis do Governo [português], dos Ministérios e da Marinha», refere a revista.
A Ferrostaal, que é detida em 70 por cento por um fundo de Abu Dhabi e em 30 por cento pela Volkswagen, escusou-se a comentar as acusações, alegando que as investigações estão em curso.
Além da Ferrostaal, o consórcio alemão Germain Submarine Consortium é integrado pela Thyssen-Nordseewerke e pela Howaldtswerke-Deutsche Werft HDW, esta com sede na cidade alemã de Kiel e responsável pela construção dos submarinos.

Situação económica portuguesa é de completa estagnação

BP anúncia menor crescimento do que o (já pouco) antes previsto

João Salgueiro e Mira Amaral afirmam não estarem nada surpreendidos com as actuais previsões do Banco de Portugal.

João Salgueiro e Mira Amaral já esperavam uma revisão em baixa das previsões do Banco de Portugal (BdP) para a economia portuguesa e o presidente do BIC Portugal avisa mesmo que o país está em “completa estagnação económica”.
“Não fiquei surpreendido. A grande questão é que o país está numa trajetória de morte lenta e tanto faz que se diga que crescia 0,6 por cento, ou que o PIB cresce 0,3 ou 0,4. Não muda nada em relação à situação que temos de completa estagnação económica”, afirmou Mira Amaral.
O Banco de Portugal reviu hoje em baixa a sua projeção para o desempenho da economia em 2010, prevendo agora um crescimento de 0,4 por cento, contra 0,7 da projeção anterior, e que o Governo ainda prevê.
O presidente do banco BIC Portugal defendeu ainda que, “se estas medidas que o Governo quer implementar com o PEC [Plano de Estabilidade e Crescimento] não forem suficientes, o Governo só vai ter o IVA como instrumento para aumentar a receita fiscal”.
As críticas de Mira Amaral ao PEC não se ficaram por aqui, com o economista a defender que terá sido um erro exigir mais “sacrifícios à classe média”. “Parece-me que teria sido preferível aumentar mais a taxa do IVA”, realçou.
Sugeriu ainda um entendimento entre os “três partidos de governo [PS, PSD e CDS]”, frisando: “É óbvio que, não tendo o PS maioria no Parlamento, devia entender-se com os outros dois."
João Salgueiro também não se mostrou surpreendido com as novas projeções do Banco de Portugal e, em relação ao PEC, sublinhou: “Vamos ter uma situação mais complicada no final do que temos agora.”
“A dívida será bastante maior, o desemprego não vai diminuir. Pelo contrário, a evolução dos níveis de vida não vai ter nenhuma solução previsível, portanto, seria desejável, e vai ter de acontecer, que houvesse um verdadeiro programa de crescimento”, comentou.
Para o ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos, o PEC “satisfez o suficiente” e apenas recebeu o apoio da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional porque “era fundamental evitar uma crise sistémica no mercado mundial”, pois “mais um caso como o grego seria muito complicado”.

Hells Angels: As pontas soltas de um processo

História do bas-fond motard envolve algarvios

Ainda não está descartada a hipótese de uma vingança dos Hells Angels. Histórias e pormenores das acusações ao nacionalista Mário Machado.

O líder nacionalista Mário Machado começou a ser julgado em Lisboa. Acusado de associação criminosa e sequestro, entre outros crimes, Mário Machado está envolvido num processo cuja investigação revela a existência de lutas de território entre gangs rivais, tráfico de droga e armas e inclui o envolvimento dos famosos motards dos Estados Unidos, os Hells Angels.Membros dos Hells Angels (HA) americanos estiveram prontos para vir a Portugal para vingar a agressão (a tiro) de um dos líderes do grupo motard em Portugal, Pedro Silva (conhecido por Thor). O alvo desta vingança seria Mário Machado, suspeito de ter disparado sobre o líder dos Hells Angels do Algarve, um grupo conhecido por Nomads. A própria Polícia Judiciária (PJ) ainda não descartou a hipótese de haver retaliações, uma vez que as agressões não costumam ficar esquecidas no gang motard mais conhecido do mundo.
Num episódio recente, um elemento dos Hells Angels alemão detido no Algarve - por ter pendente um mandado de captura internacional - foi parar ao estabelecimento prisional junto à Polícia Judiciária, em Lisboa, onde estava Mário Machado. A PJ deu ordens para que o alemão fosse mantido na cela até ao momento da extradição por recear que pudesse haver vingança sobre o nacionalista português.
No processo que agora se inicia, Mário Machado, Rui Dias, Fernando Massas, Cláudio Cerejeira, Pedro Ramos e Nuno Themudo e Bruno Monteiro vão a tribunal acusados de associação criminosa e sequestro. João Dourado é apenas acusado de detenção de arma proibida. No rol acusações de alguns arguidos estão ainda os crimes de ofensas à integridade física, roubo, rapto e coacção. Há muito que a Polícia Judiciária anda a monitorizar o grupo de motociclistas Hells Angels que tiveram como embrião os Bloody Devils - fundados, entre outros, por Fernando Fortes, que mais tarde foi vítima de sequestro por elementos dos Hells Angels - supostamente por ter abandonado o grupo em "bad stand" (saída a mal). Um processo que terminou em Janeiro deste ano e que levou à condenação de seis arguidos por ofensas à integridade física, sequestro, coacção, roubo agravado e extorsão simples, na forma tentada.
Depois das devidas autorizações da casa-mãe, nos Estados Unidos, os Hells Angels em Portugal abriram, em 2005, o charter (filial) de Lisboa e, posteriormente, na Margem Sul (Southside), no Algarve (Nomads) e, recentemente, em Aveiro (Silver Coast). Esta última é a quarta filial mais recente em todo mundo depois de Alberta, no Canadá, Spartanburg e Colorado, nos Estados Unidos. Paralelamente, Mário Machado e outros fundaram em Portugal, também em 2005, os Portuguese Hammer Skins (PHS). Apesar das afinidades ideológicas entre os Hells Angels e os PHS, sobretudo pelas tendências de extrema-direita, ambos os grupos disputam territórios em Portugal e são suspeitos de se dedicarem ao tráfico de droga, armas e extorsão.
O início do processo Segundo o processo que hoje leva Mário Machado a julgamento, tudo começou com uma investigação a elementos dos Hells Angels por tráfico de droga e armas. Uma fonte do processo disse ao i que Cláudio Cerejeira, um dos actuais arguidos juntamente com Mário Machado, era o vice-presidente dos Nomads quando Thor era o presidente. Cláudio Cerejeira é suspeito de ter enganado dois elementos dos Hells Angels brasileiros, que teriam transportado para Portugal cerca de um quilograma de cocaína. Fontes bem colocadas referem que esta foi a principal razão para os Nomads afastarem Cláudio Cerejeira do grupo. O vice-presidente veio então para Lisboa e os relatos das investigações apontam para que Mário Machado o tenha ajudado (tinham estado juntos no processo da morte de Alcino Monteiro no Bairro Alto em Lisboa) recrutando-o para os PHS. Ao mesmo tempo, segundo o processo de hoje, Cláudio Cerejeira ainda ajudava Mário Machado nas "banhadas" - roubos a traficantes de droga - e sequestros, crimes de que estão acusados.
Logo a seguir a ter saído dos Nomads, Cláudio Cerejeira continuou a viver no Algarve e foi durante esse período que os conflitos entre os apoiantes dos Hells Angels e outros simpatizantes dos PHS, como por exemplo, o grupo de motards, Roadwolves, se agudizaram. Segundo a acusação, Mário Machado deslocou-se no dia 10 de Dezembro de 2008 ao Algarve para tentar apaziguar os ânimos com Thor, que nunca se conformou com a presença dos PHS na região. Durante a conversa, apesar das tentativas de Mário Machado, Thor terá dito: "Quem manda aqui somos nós!".
Ainda segundo o despacho de acusação, Mário Machado desferiu um tiro na perna de Thor e o caso ficou por ali, porque a arma terá encravado. Mais tarde, Thor explicou aos "irmãos" americanos que tinha oferecido o peito a Mário Machado, quando na realidade o que se ouviu quando o nacionalista puxou da arma foi: "Não me desgraces a minha vida". Thor terá exagerado no relato para impressionar a "casa mãe" e ser visto como um verdadeiro membro dos Hells Angels. Foi este acontecimento que dividiu os processos. Os Hells Angels do Algarve e as suspeitas de tráfico de droga e armas que deram origem a um processo que corre no tribunal de Faro e que inclui suspeitas de venda de armas a criminosos suspeitos de ligações à ETA em Espanha. A agressão de Mário Machado a Thor deu origem ao processo que está agora em julgamento.
Pouco depois de Thor ter sido baleado, Mário Machado e Fernando Massas (arguido no processo de agora) - ambos envolvidos no caso Alcino Monteiro - estiveram em casa de um elemento do Charter Southside para por um ponto final nas animosidades. A história, quanto aos charters da Margem Sul e Lisboa, terá ficado por ali. Mas o caso provocou incómodo nas lideranças internacionais. É que, para a casa mãe dos Hells Angels, não importa que a vítima do disparo seja Thor ou outra pessoa, mas sim o facto de, à data, um presidente irmão ter sido atacado. Thor, que nunca apresentou queixa, não está disposto a identificar o autor dos disparos. Nem o faria por obrigação aos princípios da organização: nunca colaborar com as autoridades. No depoimento que prestou, disse inclusivamente que tinha sido baleado por desconhecidos. O problema é que, nos dias a seguir ao disparo, fez muitas chamadas telefónicas a explicar o sucedido. Thor terá sido afastado dos HA e vive actualmente nos arredores de Nova Iorque.
É precisamente durante as investigações ao caso de Thor que surgem as informações de que Mário Machado e os restantes seis arguidos estariam a dar "banhadas" a traficantes na zona de Lisboa. Segundo a acusação do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), este grupo de Mário Machado organizava-se para sequestrar e roubar potenciais compradores de estupefacientes, e os seus amigos, através de extrema violência e com recurso a armas. O despacho refere que, num a das acções do grupo, uma vítima foi agredida durante três horas e meia. Os agressores terão mesmo usado métodos de tortura, como o uso de uma serra em diversas partes do corpo, incluindo o pénis.
Deste processo não consta um outro suspeito: um homem que pode ter fornecido coletes com a inscrição "polícia" e outros artefactos a Mário Machado e os seus cúmplices. O material foi utilizado durante as operações do grupo para se apropriar de droga e dinheiro. Este suspeito não vai a julgamento, mas está referenciado pela PJ.
Neste caso, a PJ teve uma dificuldade acrescida para reunir provas. É que as próprias vítimas, quase todos suspeitos de tráfico de droga, não são testemunhas que, a priori, pretendam colaborar com a polícia. Muitas delas foram ameaçadas para alterarem o seu testemunho em tribunal. Uma das vítimas, num caso descrito na acusação, já terá afirmado que, em audiência, vai garantir que não conhece ninguém.

terça-feira, 30 de março de 2010

Terrorismo Internacional

40 mortos em Moscovo

Duas mulheres suicidas fazem-se explodir no metro de Moscovo. Os ataques terroristas foram bem planeados e com alvos bem definidos.

Poucas horas após os tentados terroristas de hoje, o Presidente russo, Dmitri Medvedev, declarou que "a política do Estado com vista ao esmagamento do terror no país e a luta contra o extremismo irá continuar sem vacilações e até ao fim". No entanto, essa política voltou a falhar de forma flagrante. Todos os indícios apontam para o facto de os atentados terroristas terem sido previamente bem planeados e com um objectivo claramente definido: desacreditar o Serviço Federal de Segurança (FSB) e o Ministério do Interior da Rússia.
A primeira explosão aconteceu na estação de metropolitano de Lubianka, que outrora tinha o nome de Dzerinskaia, em honra do fundador da polícia política soviética, e está situada por debaixo da sede do Serviço Federal de Segurança. Além disso, a bomba transportada pela suicida explodiu dentro do comboio "Flecha Vermelha", um dos poucos comboios que possui nome próprio na linha de Moscovo.
A segunda explosão aconteceu na estação de Park Kulturi, mas algumas informações indicam que a bomba deveria ter rebentado na estação seguinte, Oktiabrskaia, onde se situa o Ministério do Interior da Rússia. O erro teria ocorrido por a suicida não conhecer bem o metropolitano de Moscovo.
Nos últimos tempos, a polícia russa tem sido alvo de duras críticas por dirigir a sua acção para o combate às manifestações da oposição, bem como por frequentes arbítrios em relação aos cidadãos. Quanto aos serviços secretos russos, são acusados de se preocuparam mais com os seus negócios do que com a segurança das pessoas. Numerosos agentes do FSB dirigem empresas públicas ligadas à exploração e venda do petróleo e gás.
Dmitri Medvedev, respondendo às críticas dos cidadãos, demitiu, há algumas semanas, numerosos generais da polícia e prometeu continuar a "limpeza", mas não mexeu na direcção dos serviços secretos, estreitamente ligados ao primeiro ministro Vladimir Putin. Também já ninguém duvida que estes atentados terroristas, tal como tem acontecido antes, são obra da guerrilha islamita separatista que actua no Cáucaso do Norte: Chechénia, Inguchétia e Daguestão. A guerrilha ainda não reivindicou o atentado, mas, na notícia dos atentados publicada no seu sítio electrónico kavkazcenter, chama às suicidas "mártires".
Nos últimos tempos, as forças policiais e militares russas têm lançado frequentes operações de combate à guerrilha no Cáucaso do Norte, mas, aparentemente, desprezaram a retaguarda e a capacidade dos separatistas de actuarem em outras regiões da Rússia. Em Novembro passado, uma bomba fez descarrilar o comboio rápido que liga Moscovo a São Petersburgo, provocando dezenas de mortos e feridos.
O Presidente russo já chegou à conclusão de que o problema do terrorismo no Cáucaso do Norte não pode ser resolvido apenas por meios militares e tomou uma série de medidas com vista a resolver problemas como o desemprego e a corrupção na região, mas elas ainda não passaram à fase da concretização real. Medvedev criou mesmo o Círculo Federal do Cáucaso do Norte para concentrar forças e meios nesse sentido, mas os resultados só virão a longo prazo.

Resort sénior em Monchique

O primeiro hotel português dedicado ao turismo sénior

Acaba de abrir um novo resort português para hóspedes entre os 45 e os 70 anos. Chama-se Longevity Wellness Resort e nasceu na serra de Monchique.

O Longevity Wellness Resort, que acaba de abrir em Monchique, no Algarve, é o primeiro conceito deste género em Portugal. É um espaço voltado para pessoas com mais de 45 anos e, segundo o CEO do grupo, Nazir Sacoor, a ideia é combinar "a vertente turística com a vertente da medicina preventiva e de gestão do envelhecimento, articulando, num único espaço, uma oferta de bem-estar baseada em abordagens holísticas (terapias de relaxamento para a mente e para o corpo), estéticas (terapias de rejuvenescimento) e médicas (diagnóstico clínico, prescrição, nutrição).
Não há qualquer interdição de idades, apesar de estar mais orientado para pessoas activas e independentes com idades compreendidas entre os 45 e os 70 anos. "O nosso factor diferenciador é a terapêutica de longevidade, mas somos também um resort aberto ao público como qualquer outra unidade hoteleira. Aliás, muitos dos nossos serviços, como o restaurante Olivier ou o Longevity Medical Spa estão abertos ao público", diz Nazir Sacoor. Em suma, se pensa que aqui estará safo de gritos e mergulhos ruidosos na piscina, esqueça. Mas há que ver as coisas pelo lado positivo: mesmo que ainda ande na casa dos 30, pode usufruir de todas as infra-estruturas do espaço. Até porque "o mercado natural são todas as pessoas que gostam de Natureza e tranquilidade, que têm consciência ambiental e se preocupam em viver mais e melhor".
O Longevity Wellness Resort foi pensado para satisfazer vários tipos de públicos. Para os mais avançados na idade, há toda a parte de programas médicos, que podem durar entre uma semana e um mês. "Os hóspedes poderão escolher vários tipos de tratamentos sob a monitorização de médicos especialistas que, além de um diagnóstico metabólico completo, prescrevem terapias personalizadas à medida das necessidades de cada hóspede", explica o responsável. De diagnósticos de saúde e do ritmo de envelhecimento a consultas de gestão do stress ou do peso, há de tudo um pouco. Para quem acha que ainda é novo para se meter nestas coisas, pode sempre optar pelos tratamentos de spa mais tradicionais, pelas várias piscinas, pelo ginásio, ou pela cozinha de autor do chefe Olivier, no Longevity Cuisine. "Teremos sempre muitas animações e actividades programadas para se adequarem a todos os tipos de hóspedes, incluindo os mais jovens, mas sempre orientadas para a saúde e bem-estar", garante Nazir Sacoor.
Um dos grandes factores distintivos do Longevity é o medical spa. Enquanto um spa normal está vocacionado para tratamentos de relaxamento e beleza, o medical spa adiciona a isso uma forte componente de diag-nóstico clínico e respectivos tratamentos, prescritos de forma o mais personalizada possível de forma a optimizar o bem-estar físico e espiritual. O Longevity Medical Spa funciona em parceria com a La Clinique de Paris de Claude Chauchard, um dos especialistas mundiais nas áreas de medicina preventiva e anti-envelhecimento.

Cavaco em Loulé

Deixa aviso à estabilidade

País deve ter «muito cuidado» para não contribuir para que os mercados internacionais julguem mal o PEC.

O Presidente da República felicitou este sábado o novo líder do PSD, Pedro Passos Coelho, alertando para que Portugal tenha «muito cuidado» com a estabilidade política porque, neste momento, «depende muito» da apreciação de outros países, goste-se ou não do PEC.
«Neste momento, independentemente de se gostar ou não gostar do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), temos que nos colocar na posição de defender Portugal perante o estrangeiro», disse Aníbal Cavaco Silva em Loulé. O Presidente da República falava aos jornalistas à margem da inauguração da exposição «Aníbal Cavaco Silva: Exposição Biográfica de um Presidente nascido em Loulé», patente no Convento de Santo António até 09 de Maio.
Salientando que Portugal precisa de estabilidade política para fazer face aos «desafios muito complexos» que tem pela frente, Cavaco Silva disse estar convencido de que todas as forças políticas pensam da mesma forma. «Nós dependemos muito neste momento da apreciação de cidadãos de outros países e por isso como Presidente da República estarei sempre ao lado daquilo que é melhor para Portugal perante os estrangeiros que nos observam», resumiu. Segundo Cavaco Silva, o país deve ter «muito cuidado» para não contribuir para que os mercados internacionais julguem mal o programa português porque assim as famílias e empresas terão ainda de pagar «juros mais elevados».
Durante a visita que fez à exposição em sua homenagem, promovida pela Câmara de Loulé no âmbito das comemorações do centenário da implantação da República, o Presidente da República recordou momentos desde a sua infância, em Boliqueime, ao início da carreira política. Aos jornalistas Cavaco Silva confessou que o momento mais surpreendente da sua vida política foi o convite de Francisco Sá Carneiro para integrar o Governo como ministro das Finanças em 1979.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Opinião do Leitor

A (in)consciência que houvera de ter

Convinha que fossemos "mais homens de palavra", mais fiéis aos projectos iniciados. É que, quem não se mostra fiel e coerente consigo e com os companheiros, não pode ser garantia para nada nem para ninguém.

Ao ler um texto assenhoreamo-nos dele. E como destinatários somos transportados para o seu sentido denotativo, mas também conotativo. Quando a bóia transmite através dum fio um sinal a uma lâmpada ou a uma bomba, a comunicação estruturada tem por mensagem denotativa que a água chegou ao nível máximo. Mas para nós, pessoas, isso é ainda sinal de outras coisas: sinal de perigo ou de alerta. A Crónica de Domingo, a mim, fez-me pensar na consciência. O que é, onde mora ou existe, pra que é. E porque raio havia de haver no mundo, no cosmos, algo ou alguém dotado de tamanha coisa. Porque é coisa tamanha tudo o que se possui e usa bem como a falta dela...
No 1º mandato deste presidente da câmara (Albufeira), manifestei a amigos e com quem lido, o meu agrado pela preocupação por ele colocada em certos sectores da vida autárquica. Mas veio o 2º mandato e eis que vi o "pavão" que já conhecia antes. A ânsia de GANHAR, o orgulho e a vaidade de ser, a CONSCIÊNCIA inflamada de que é ele e dele tudo o que usa e faz!...
Não creio no político que sabe fabricar clientelas. Andei na escola antes e depois do 25 de Abril e fiquei a saber, bem por dentro, em que é que nunca mais me havia de deixar tornar.
Para este 3º mandato, o povo de Albufeira manteve a lógica do já sabido. Como acrescentar e renovar o paraíso perdido que já habita? Todos sabemos que com meia dúzia de apartamentos qualquer pequeno burguês vive e se satisfaz. Esta terra nasceu para a riqueza sem grandes custos ou "enriquecimento pessoal-formativo". Cada um aspira a ser o opressor que sempre viu à sua frente. A partir daí o que lhe falta é ter e sentir a "honra" de cumprimentar e ser cumprimentado pelo senhor poderoso da câmara. A "honra" foi inventada pelos homens... (?) É assim que as pessoas vivem pelo poder. E a expetativa dum favor? Convenhamos, meus senhores, será coisa muito difícil, nos tempos que correm, de promover e alimentar? Um relogiozito aqui, um jantareco ali, um convite para ir até à Áustria, Espanha ou o que for, um bailarico que sempre foi coisa que as pessoas souberam organizar e fazer sem políticos à perna, uma via sacra com um tom faducho para dar nas vistas, um estar em todo o lado seja de corpo vivo seja já a pensar na ausência (toponímia). Deixemos o homem ir em paz, agora que uma lei nos pôs em ordem e no caminho da novidade que já tardava.
Um povo que, para ser democrata, precisa de ter leis que o obriguem, não pode nunca estar livre de ter ditadores à sua altura, isto é, do tamanho da sua pequenez. Porque ainda temos dúvidas sobre a nossa reles consciência do mal que provocamos? As asneiras arquitectónicas, os dinheiros esfumados e desbaratados por grupos e grupelhos em troco de votos, não são coisas pensaveis e admissíveis pela consciência crítica de cada cidadão e homem livre? Há gente que não merece a liberdade que tem porque não respeita a liberdade dos seus vizinhos e dos que são diferentes. São governados por quem querem e do modo que merecem. Por isso hoje Albufeira é a terra algarvia que mais mete dó e nalguns locais até algum nojo! Porque a consciência que fabricou cimento, charadas que o vento levou, e agora não consegue um tostão para a limpeza e arranjo das ruas e estradas do concelho, foi, objectivamente, a consciência de quem só pensava em si, de se perpetuar até que uma "maldita" lei o ajudasse a governar a própria consciência.
Depois disto há ainda os que, querendo um dia o mesmo que este tem tido se foram afastando calculadamente para no momento doutras verdades aparecerem a clamar pela união de alguns pobres coitados. Convinha que fossemos "mais homens de palavra", i.é, mais fiéis aos projectos iniciados. É que, quem não se mostra fiel e coerente consigo e com os companheiros, não pode ser garantia para nada nem para ninguém. É por isso que Albufeira tem de estar mais atenta a tudo e a todos se quiser, qualquer dia, ter a consciência um pouco menos pesada e senhora de si.
A. Ramos

Combustíveis aumentam

Portugal foi o segundo na subida

Gasolina e gasóleo nacionais continuam entre os mais caros antes de impostos. O sector diz que há razões para Portugal ser menos competitivo.

Gradualmente e sem o alarme social vivido em 2008, os preços dos combustíveis estão a voltar a níveis de Fevereiro desse ano.Portugal está na linha da frente dos países onde os preços sem impostos mais aumentaram este ano. Entre a última semana de 2009 e a terceira semana de Março, o preço médio da gasolina e do gasóleo nacionais foram os segundos que mais subiram na Europa a 27, de acordo com dados da Direcção Geral de Energia da União Europeia (UE).
Na gasolina, os aumentos são liderados pela Dinamarca. No gasóleo, a Grécia foi quem mais agravou o preço antes de impostos (este país também subiu carga fiscal sobre os combustíveis). Portugal surge em segundo lugar no top dos aumentos, mas com diferenças diminutas: um cêntimo acima do terceiro na gasolina (Espanha) e menos de meio cêntimo no diesel (Dinamarca). Embora não conheça os números deste período particular, o secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO), realça que os estudos sobre o mercado português concluem que a evolução dos preços em Portugal está alinhada com o que se passa na Europa. Recordando o recente estudo apresentado pelo economista Augusto Mateus, encomendado pela Galp Energia, António Comprido assinala que, retirado o efeito dos desfasamentos temporais (duas a três semanas no caso português) e analisada a evolução média em períodos longos, o comportamento do mercado português segue a tendência europeia. E as diferenças, quando existem, são muito reduzidas, de poucos cêntimos por litro.
O responsável pela APETRO diz ainda que a análise da diferença entre a cotação platts (cotações que servem de referência internacional para as transacções de produtos petrolíferos) e o preço médio sem impostos, nas últimas 52 semanas, mostra que não houve um aumento da margem das empresas. Mas se o mercado nacional é concorrencial, como conclui o estudo de Augusto Mateus, então porque é que os preços nacionais estão sempre entre os mais caros da UE? Na terceira semana de Março, Portugal tinha a terceira gasolina mais cara e o quarto gasóleo menos barato, tudo antes de impostos.
É o próprio António Comprido que reconhece que os preços nacionais costumam estar dois a três cêntimos acima da média da UE, sem impostos. Os consumidores pouco notarão a diferença, mas ela pode ser relevante para as empresas, já que este é um mercado onde a escala faz toda a diferença: num ano dois a três cêntimos significa uma receita adicional da ordem dos 150 milhões de euros para a indústria. Por outro lado, a carga fiscal portuguesa, superior à espanhola, amplifica estas diferenças nas bombas.
O responsável da APETRO diz que há características estruturais do mercado nacional que contribuem para esta situação. "É pequeno e periférico, logo aí terá tendência para ser um mercado menos eficiente", explica António Comprido ,que assinala, contudo, o facto dos preços nacionais serem por vezes inferiores aos de Espanha, um mercado quatro vezes maior. Outra hipótese que avança, sustentada num recente estudo da Comissão Europeia, prende-se com dúvidas sobre se os preços dos vários países são de facto comparáveis. Em Portugal, sublinha, há uma política agressiva de descontos em bomba, através de cartões ou outro tipo de promoção, que não transparece nos preço médio final contabilizado pela Direcção-Geral de Geologia e Energia. Talvez a situação competitiva do mercado nacional de combustíveis melhorasse se as estatísticas traduzissem esta realidade, admite. Fica a dúvida.

A segurança e autoridade que tarda

Novos polícias e GNR só em 2011

"O Governo disse que iriam entrar imediatamente mais dois mil novos elementos para as forças de segurança, mas isso não é verdade".

O ministro da Administração Interna afirmou ontem que os dois mil novos elementos da PSP e GNR que as forças de segurança vão poder admitir, na sequência de um despacho ministerial, só estarão na rua em 2011.
Em declarações aos jornalistas, à margem do IX Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, em Setúbal, Rui Pereira disse que, “antes de saírem para a rua, os novos elementos têm que ser recrutados e têm que ter formação”, confirmando que estes novos 2 mil efetivos não estarão nas ruas em 2010.
Recorde-se que a GNR e a PSP vão poder desencadear procedimentos concursais para admitir, no total, 2 mil novos efetivos, na sequência da assinatura, a 24 de março, de um despacho conjunto por Rui Pereira e pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.
O CDS criticou hoje o Governo por haver aumento "zero" de agentes de forças de segurança em 2010. "O Governo disse que iriam entrar imediatamente mais dois mil novos elementos para as forças de segurança, mas isso não é verdade", disse o deputado Nuno Magalhães em conferência de Imprensa.
Segundo este dirigente democrata cristão, um concurso para a GNR ou para a PSP, demora em média sete meses em procedimentos administrativos e, depois de aberto o curso, um polícia tem de ter nove meses de instrução.

domingo, 28 de março de 2010

Crónica de Domingo

Quando não é só a natureza que mata

A natureza não mata apenas com enchentes diluvianas, deslizamentos de terras, terremotos e tsunamis. Mata também, e muito, pelas mãos do homem. O que é bem mais preocupante.

Moço da cidade, tive o interior e a natureza como presença constante e enorme em torno da casa de meus avós durante a minha infância por toda a pequena aldeia que frequentemente visitávamos: paisagem, abrigo, fascinação, surpresa, escola de permanência e também de transitoriedade. Mantive um laço estreito com esse universo por vontade própria até aos dias de hoje, quando já pouca família chegada nos resta, uns primos e primas dos mais afastados, mas quando posso lá vou, corro pelas aldeias visinhas, oiço e serra, e durmo de janelas e cortinas abertas, para sentir a respiração do mundo. Porém, cedo também aprendi que a mãe natureza pode ser cruel. O granizo perfurando as folhas das plantas e arrasando a horta, a geada castigando flores, raios matando gente e animais. De longe em longe, ouvia-se falar em terremotos, quando o vasto mundo ainda era afinal distante. Agora que o mundo ficou tão minúsculo, tão pequenino, porque a Europa hoje acorda gelada e amanhã ou explode uma bomba pela tarde, o Haiti fica arrasado, e o Chile destruído, e logo ficamos a saber em tempo real. São notícias que estão ao alcance do meu dedo no computador ou no controle da televisão, onde a velha mãe natureza se manifesta em estertores que podem ser apenas normais (o clima da Terra sempre mudou, às vezes radicalmente, antes de virmos povoar este planeta), mas também podem ser roncos de protesto: "Éh lá, o que é que estão a fazer comigo, essas grandes perfurações no meu ventre, a carapaça de betão que instalaram sobre minha pele?"
Mas a natureza não mata apenas com enchentes diluvianas, deslizamentos de terras, terremotos e tsunamis. Mata também (e muito) pela mão dos humanos, o que pode parecer um facto pouco relevante e em escala menor, mas é bem mais preocupante. Homens, mulheres e meninos-bomba quase diariamente explodem por aí fora, levando consigo dezenas de outras vidas inocentes: pais de família, mães ou crianças, homens que trabalham na feira, mulheres que procuram a sobrevivência nos mercados, jovens que vão para a escola. Bandidos que incendeiam autocarros cheios de passageiros lá dentro: dois deles morrem logo, outros vários ficam em hospitais no grave sofrimento dos queimados. Os passageiros não tinham nada a ver com a bandidagem nem com os seus protestos, estavam apenas indo para o trabalho, ou vindo dele. Assaltantes explodem carrinhas de valores, assaltam bancos em cidades grandes, agora mais particularmente nas do interior antes tranquilas. Criminosos violam ou sequestram casais ou famílias inteiras e submetem-nos aos maiores vexames de terror. Como está acontecer pelo Algarve com comunidades estrangeiras, e a gente agradece por escapar de tudo isso com vida.
Uma mãe deixa numa barraca imunda três crianças, algumas com menos de 6 anos. Sem comida, sem força, sem presença, sem a menor higiene. Uma delas pega incêndio ao tugúrio, duas morrem queimadas, a outra salva-se. A policia que encontra a menor leva-a para a esquadra, onde lhes dão de comida. A criança, de tão fraca, mal consegue alimentar-se. A mãe quando a recolhe, chora: tinha quatro filhos pequenos, e há algum tempo havia perdido uma filhinha. A miséria humana agride até essa mulher que com ela deve ter frequente contacto.
A natureza, da qual eu e você fazemos parte, mata com muito mais crueldade através de nós próprios do que através do clima ou de movimentos da terra, e da maneira bem mais assustadora e responsável: porque nós pensamos, temos consciência e responsabilidade enquanto prejudicamos o nosso semelhante. Temos a intenção de atormentar, torturar, matar, mesmo que em vários casos seja uma consciência em delírio – vivemos tão alucinados por uma vida sem nexo, que achamos graça e desculpas para tudo. Mas somos responsáveis por agirmos e nos ter-mos deixado alienar.
Tal como me dizia um amigo brasileiro à dias, “o ser humano não tem mesmo jeito, não”, ou: “esse é o nosso jeito, a nossa parte má da natureza”. De um lado, estão os que cuidam e construem, que vão de pais e mães até aos médicos e enfermeiras; do outro lado, os destruidores, que são os bandidos, mas também (que tristeza) eventualmente alguns pais e parentes. E contra eles, tanto ou mais do que contra a natureza não humana, nós somos praticamente impotentes. O que faz uma criança diante do abandono materno ou paterno? Em relação ao pai, tio ou irmão que é violador? O que fazem os passageiros de um autocarro, pacíficos e cansados, diante do terror imposto por bandidos ou terroristas? Nada. Somos migalhas humanas soterradas pela maldade e frieza que se instalou entre nós. Como num terremoto ou tsunami somos soterrados pela lama dos maus sentimentos, pelos destroços humanos, asfixiados pelas águas até á alma.
Resta filosofar um pouco: de que vale a vida humana, quanto vale a minha, ou a sua, e como a usamos, se é que pensamos nisso algumas vezes? Pensar pode ser maçador, chato, e ainda por cima traz-nos alguma inquietação. Mas da natureza poderosa, encantadora e cruel também fazemos parte, e somos nós: que a gente não fique do lado dos animais assassinos, como a orca, que depois de matar três pessoas numa praia australiana, continua (como foi noticiado) "fazendo parte do time", voltando ao vasto oceano.
Antes de usar-mos um autocolante apelando a que se "salvem as baleias", eu quero um autocolante a dizer: "salvem as pessoas, que são parte da natureza".
Carlos Ferreira

algarve.reporter@live.com.pt

sábado, 27 de março de 2010

Fim de Semana

2010 - Este é o ano em que o Papa e Obama põem Portugal no centro do mundo

As visitas oficiais não serão suficientes para distrair os portugueses das dificuldades, alertam os especialistas. Portugal estará no centro das atenções mundiais, mas só por causa de Obama e Bento XVI. Nada mais. Só a reeleição de Cavaco Silva pode saír beneficiada.

Bento XVI vem a Portugal participar nas celebrações do 13 de Maio, numa das mais longas visitas de um Papa a Portugal. Para além do impacto espiritual junto da comunidade católica, Bento XVI também dá uma ajuda à economia: o Turismo da Região de Leiria esfrega as mãos à espera de uma enchente e todos os hotéis esgotaram com seis meses de antecedência. Em Washington, Barack Obama decidiu ignorar a cimeira União Europeia/Estados Unidos em Madrid (em Maio), para vir a Lisboa discutir o novo conceito estratégico da NATO. Esta será a sétima vez que um presidente dos Estados Unidos visita Portugal. E será uma estreia para Barack Obama. Apesar de ainda não ser conhecida a duração da estadia, implicará certamente um dispositivo de segurança nunca visto em Portugal. A PSP já começou a organizar os preparativos, mas grande parte das responsabilidade de segurança ficarão a cargo dos serviços secretos dos norte-americanos. "O presidente dos EUA vem sempre com dezenas de seguranças e viaturas blindadas", explica Paulo Gorjão, director do Instituto Português de Relações Internacionais.
Poucas dúvidas há que estes dois eventos hipermediatizados - aos quais se junta o Campeonato do Mundo de futebol - irão condicionar a agenda política do país durante seis meses. Bento XVI e Barack Obama trarão a Portugal mensagens de esperança. Mas serão suficientes para fazer os portugueses encherem o peito e esquecerem as dificuldades económicas que enfrentam?
"Não espero um efeito de anestesia colectiva. Uma coisa é viver um crescimento desanimador, como nos últimos anos. Mas o país não está a olhar para o cardápio habitual. A realidade vai ser mais forte que estes focos de distracção", afirma o colunista João Pereira Coutinho. "Não há manobra que oculte os problemas imediatos que afectam as pessoas.
"Com a taxa de desemprego a bater níveis históricos (10,1%), o PEC a pedir aos portugueses que apertem ainda mais o cinto e uma anunciada perda do poder de compra para os próximos tempos, a realidade portuguesa é demasiado pesada para ser afastada com sopros mediáticas. "Já em 2004, também na altura com Portugal em crise e com o Europeu de Futebol à porta, ouvimos o argumento que o país se ia mobilizar e ultrapassar as dificuldades. Isso afinal não aconteceu", explica Miguel Morgado. Na opinião do professor de Ciência Política da Universidade Católica, "os portugueses têm de perceber que o problema da sociedade não é a moral em baixo nem a falta de esperança. Aliás é por ter tido esperança a mais que o país está no estado em que está. Não precisamos de uma luz do além que é trazida pelo Papa, por Obama, nem pelo Campeonato do Mundo que nos faça ultrapassar os problemas", conclui Morgado.
Ainda assim, estas visitas permitem alimentar o ego nacional, reforçam o prestígio diplomático e, talvez por uns dias, Portugal deixe de ser falado pelas piores razões. "A visita não traz qualquer benefício concreto para a vida das pessoas, mas é motivo de algum prestígio e mostra confiança diplomática em Portugal", sustenta Paulo Gorjão.
Também na política interna, os acontecimentos do ano mais relevantes para a diplomacia portuguesa podem ter consequências. Para Boaventura Sousa Santos, as visitas não vão melhorar a situação do país, mas serão tratadas politicamente para dar essa impressão. "São acontecimentos que vão trazer imenso espectáculo atrás de si e qualquer político gosta disso. Enquanto assim for há menos pressão sobre o governo."
Esperam-se alinhamentos interessantes. O sociólogo da Universidade de Coimbra explica porquê: "Temos um Papa conservador que vai ser recebido por um Presidente que não vai perder a oportunidade de se mostrar um conservador. Recebemos um presidente - Barack Obama - que aparece junto da população portuguesa com uma aura que há muito perdeu na América. Sócrates, com o país em crise, certamente terá interesse em aparecer junto a alguém deste calibre político." É natural que quem estiver em contacto com Barack Obama tire algum proveito dessa atenção mediática.
Novembro será já um mês dominado pela pré-campanha das eleições presidenciais e o Presidente da República Cavaco Silva poderá ser o principal beneficiado. "Não tenho a menor dúvida que terá um efeito positivo para Cavaco Silva nas eleições. Não será Alegre nem Nobre na fotografia", acrescenta João Pereira Coutinho. Para o comentador, a reeleição de Cavaco Silva poderá ser facilitada por um ano com uma agenda política muito preenchida: "2010 vai ser um longo passeio presidencial. Cavaco Silva vai passar por vários palcos de prestígio, como a visita do Papa e de Obama, e deverá terminar esse périplo com o anúncio de que se irá candidatar."
Em 2010, um país chamado Portugal estará no centro das atenções mundiais. Mas só por causa de Obama... e Bento XVI. Nada mais.

PSD tem novo líder

Passos Coelho é o novo presidente social democrata

Eleito presidente com quase dois terços dos votos, Passos convoca adversários para as suas listas.

Pedro Passos Coelho é o novo líder do PSD. O antigo deputado derrotou ontem, em eleições directas, Paulo Rangel, José Pedro Aguiar-Branco e Castanheira Barros, obtendo quase dois terços dos votos dos 79 mil militantes sociais-democratas inscritos.
Passos Coelho sucede, assim, a Manuela Ferreira Leite à frente do partido e deverá tomar posse como presidente no próximo congresso, onde serão também eleitos os novos órgãos directivos e jurisdicionais do PSD. Com 310 mesas de votos contadas e 30 ainda por contar, os resultados eram esclarecedores: 61,1% votou em Passos Coelho, 34,5% em Paulo Rangel, 3,6% em Aguiar-Branco e 0,2% em Castanheira Barros.
Passos Coelho, como novo líder do PSD, deixou "vincada" a intenção de ver os seus adversários envolvidos na primeira linha de acção do partido. E convidou-os para integrarem os órgãos nacionais que saírem do congresso que o vai entronizar.
Na declaração de vitória, Passos Coelho prestou homenagem a Ferreira Leite, e "dando nota" da necessidade de a manter na primeira linha de combate. "O PSD decidiu mudar", disse, mesmo que sem "um cheque em branco". Falou de um "voto de confiança", pediu a contribuição de todos para a nova etapa - um contributo para a coesão do partido". Agora, começará o trabalho de abrir o partido ao país. "Ouvir os portugueses", sobretudo os "que vivem em crescentes dificuldades" e os que "querem lutar por um país mais próspero, mais solidário, progressista e mais justo".
No final da curta intervenção de vitória, Passos garantiu que o PSD "não é um saco de gatos". "O meu mandato é um mandato em que todos estaremos à prova", disse. Para o Governo, ficou a promessa de não querer "abrir uma crise política", mas também sem "levar o Governo ao colo".

PS espera que liderança de Passos Coelho acabe com política de casos e de ataques pessoais

O PS afirmou hoje esperar que a eleição de Pedro Passos Coelho para presidente do PSD contribua para retirar da agenda política os ataques pessoais e os casos, centrando-se antes na discussão de propostas para o país. Na sua declaração aos jornalistas, o secretário nacional do PS para a Organização, Vieira da Silva, começou por saudar o PSD pela eleição do seu novo presidente, Pedro Passos Coelho, dizendo que esta escolha "termina com um prolongado período de debate interno" entre os sociais democratas e "clarifica finalmente" a liderança neste partido.
"O PS tem a expetativa que a eleição do novo líder do PSD contribua para melhorar a qualidade do debate político em Portugal, centrando-se fundamentalmente na discussão de ideias e de propostas para o país. Esperamos que o debate não seja marcado - como tem vindo a acontecer nos últimos tempos - por uma política de casos, de ataques pessoais e de crispação na vida política", frisou Vieira da Silva.
Para Vieira da Silva, essa alegada forma de fazer política com base em casos "dificulta o caminho para se encontrarem soluções que possam mobilizar a sociedade portuguesa. O PS espera também que com a nova liderança o PSD possa assumir plenamente as suas responsabilidade enquanto maior partido da oposição, em particular na resposta à difícil situação de crise que o país enfrenta", acrescentou.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Efeito estufa?

Ilha que desaparece

De acordo com cientistas e oceanógrafos da Universidade de Calcutá, a região tem registado uma subida violenta dos níveis da água do mar – um dos efeitos do aquecimento global.

Fotos de satélite recentemente divulgadas revelam que uma pequena ilha do Oceano Índico – alvo de disputa entre a Índia e o Bangladesh – terá desaparecido do mapa. A Ilha New Moore (para os indianos) ou Talpatti (para os bangaleses) estava situada no Golfo de Bengala, a sul do Rio Hariabhanga.
A explicação para tal desaparecimento é simples: subida do nível das águas. De acordo com uma equipa de cientistas e oceanógrafos da Universidade de Calcutá, a região tem registado uma subida violenta dos níveis da água do mar – um dos efeitos do aquecimento global.
Segundo o professor Sugata Hazra, os estudos recentes do instituto oceanográfico concluíram que, nos últimos 15 anos, a água tem subido a uma “velocidade alucinante, muito mais depressa do que se previa”. A ilha, com uma área de cerca de 10 km2 nunca foi habitada.

O próximo líder do PSD...

Os homens do novo presidente já estão à espreita

O economista Nogueira Leite ou o politólogo Vasco Rato são nomes da lista de Passos Coelho. Paulo Rangel terá Capucho e Fernando Seara.

Hoje à noite, o novo líder do PSD vai fazer um discurso de mudança, ruptura e união. As principais bandeiras das campanhas para as directas dos três principais candidatos - Pedro Passos Coelho, Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco - terão de ser assumidas pelo presidente eleito. É verdade que os sociais-democratas se unem quando sentem o cheiro do poder a aproximar-se. Só que a capacidade de resiliência demonstrada por José Sócrates, sobrevivendo a todos os casos em que se viu envolvido, pode estragar os planos dos que esperam uma rápida queda do governo. Passos Coelho já disse que não tinha pressa, como aliás Paulo Rangel e Aguiar-Branco, mas a tradição diz que nenhum presidente do PSD se aguenta muito tempo na oposição.
A intenção pós-eleitoral é de tentar unir as várias facções. Ainda assim a comissão política de Passos deve reunir alguns dos fiéis apoiantes. Paula Teixeira da Cruz é um nome incontornável, como o economista António Nogueira Leite, o politólogo Vasco Rato, o líder da distrital do Porto, Marco António Costa, ou o congénere de Lisboa, Carlos Carreiras. Não se sabe se Miguel Relvas irá preferir manter-se distante da vida política interna social-democrata. Fernando Ruas, presidente da Câmara de Viseu e da Associação de municípios, mandatário nacional de Passos Coelho, poderá ser o nome apontado para a presidência da mesa do congresso. Ângelo Correia deverá ficar de fora, por vontade própria. O santanista Pedro Pinto é outro nome falado para a comissão política, assim como o antigo líder da JSD e actual deputado, Pedro Duarte. Rita Marques Guedes, na ala feminina, completa a lista previsível.
Paulo Rangel também não fugirá muito ao guião dos seus apoiantes: caso seja eleito, irá convidar personalidades como o actual vice-presidente de Manuela Ferreira Leite, Paulo Mota Pinto. Sofia Galvão, outra vice de Manuela e apoiante de Rangel desde a primeira hora, aparece como nome a ter em conta numa putativa direcção. O eurodeputado Mário David, marcelista de sempre, também está na lista, assim como Macário Correia, o jardinista Guilherme Silva e Fernando Seara. António Capucho poderia ser o nome do próximo presidente do congresso do PSD.
Salvo uma reviravolta totalmente inesperada, o próximo líder não vai ter lugar na bancada laranja e será obrigado a negociar para conseguir uma direcção parlamentar que lhe seja fiel. Passos Coelho já disse que se fosse eleito presidente do PSD iria manter o actual líder parlamentar e seu concorrente, Aguiar-Branco. Mas o adversário nas directas também já afirmou que não irá continuar nesse cargo, seja com quem for eleito. Nesse caso deverá ser o passista Miguel Macedo a assumir a liderança.
O líder que se segue vai procurar exorcizar uma maldição cor-de-rosa que parece assombrar a São Caetano à Lapa, onde se encontra a sede nacional em Lisboa. Desde que José Sócrates foi eleito secretário-geral do PSD em 2004, houve quatro presidentes sociais-democratas: Pedro Santana Lopes, Luís Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite. O próximo vai ser o quinto de uma lista negra para o PSD, numa sucessão de punhaladas nas costas, divisões e quezílias na praça pública. O rastilho do confronto interno mantém-se aceso. O PSD é um partido de individualidades e barões com uma tendência clara para o fratricídio, de Marcelo Rebelo de Sousa a Alberto João Jardim, Santana Lopes, Luís Filipe Menezes ou Pacheco Pereira. Todos são conhecidos por não gostarem de ficar calados. Rui Rio, que costuma ser reservado, não deixou de dar as suas opiniões sobre as sucessivas lideranças do partido. O PSD é um partido com uma lista infindável de possíveis candidatos a líder.
Este último comentador está no parlamento e, tal como Marcelo, mantém uma extensa rede de plataformas de comunicação social que lhe servem para publicar opinião, muitas vezes negativa para os líderes do partido. Ninguém esquece, por exemplo, quando Pacheco Pereira inverteu as setas da sigla do PSD, no blogue onde escreve, o Abrupto, durante a presidência de Luís Filipe Menezes.
O Presidente da República, Cavaco Silva, apesar da prudente distância institucional que mantém em relação ao antigo partido, é sempre uma referência do PSD e a sua influência estende-se a cavaquistas como Alexandre Relvas, que se demitiu da presidência do Instituto Sá Carneiro a duas semanas destas directas, ou à própria Ferreira Leite, que já disse que irá manter-se como deputada no parlamento. Sabe-se que não convém ao próximo líder ser considerado "má moeda" por Cavaco Silva.

Ler mais em: http://www.ionline.pt/conteudo/52755-o-proximo-lider-os-homens-do-novo-presidente-do-psd-ja-estao--espreita

Grupo Bilderberg

Rangel convidado por Balsemão para encontro do grupo

Manuela Ferreira Leite esteve no encontro do ano passado na Grécia, que reune a elite da política e alta finança mundial.

O candidato à liderança social-democrata Paulo Rangel foi convidado pelo fundador do PSD Francisco Pinto Balsemão para participar no encontro anual do grupo Bilderberg, marcado para Junho, disse à Lusa fonte próxima do eurodeputado, noticia a Lusa.
Em Maio do ano passado, a presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, participou como convidada na conferência anual do grupo Bilderberg, na Grécia.
O grupo Bilderberg reúne-se anualmente desde 1954, e normalmente os seus convidados "são pessoas pré-escolhidas, ou designadas pela cena internacional para desempenharem cargos importantes". Nos seus encontros, que têm carácter sigiloso e são restritos a convidados, participam personalidades da política e das empresas.
O próximo líder do PSD vai ser escolhido esta sexta feira, em eleições directas, às quais se apresentaram quatro candidatos: Pedro Passos Coelho, Paulo Rangel, José Pedro Aguiar-Branco e Castanheira Barros.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Comissão Europeia dá o alerta

Crise na Grécia pode ser “tsunami para Portugal”

Segundo publica o ionline, a vice-presidente da Comissão Europeia, Viviane Reding, afirmou nesta quinta-feira que a crise na Grécia é um "tsunami que pode afectar a Espanha ou Portugal".

O plano de ajuda à Grécia está a dividir profundamente a União Europeia. A Comissão Europeia e a França tentam pressionar Angela Merkel a aprovar os apoios à economia grega, mas a chanceler alemã tem resistido. De acordo com uma sondagem recente, os germânicos são contra a ajuda financeira aos gregos.
A Grécia está mergulhada numa profunda crise económica, com um défice de 12,7%. Os países da UE reúnem-se, entre hoje e amanhã, numa cimeira para debater o plano de resgate à Grécia e os dirigentes europeus estão a utilizar os meios de comunicação para lançar mensagens uns contra os outros.

A tribo que resiste

PCP: Os novos, os velhos e os ex-comunistas saneados

A nova geração tem entre 14 e 19 anos e acredita que o comunismo é o futuro. Outros, mais velhos, desiludiram-se com o PCP, mas continuam "camaradas". Para o ex-deputado algarvio Carlos Brito, a situação de crise económica que se vive pode ser uma lufada de ar fresco para o partido.

"Camaradas, o comunismo pertence ao futuro. Palavras do Cunhal". A frase, carregada de convicção, é de Pedro Carruna, um rapaz magro de 19 anos que não consegue parar de gesticular enquanto fala. "O meu avô guarda religiosamente a farda da Mocidade Portuguesa. E o meu outro avô foi preso político em Caxias e soube bem o que era a tortura do sono". A memória transmite-se oralmente sob o olhar atento de Karl Marx, cujo retrato pontifica na parede daquela sala de aula em que doze jovens se preparam, com lápis e cadernos em punho, para a lição de Ofensiva Ideológica. Ouve-se uma música de Ary dos Santos.
Na sede do PCP do Barreiro arrancou o Curso de Formação Ideológica para jovens do ensino secundário, organizado pela Juventude Comunista Portuguesa (JCP) da região de Setúbal. Os militantes, dos 14 aos 19 anos, abdicaram dos tempos livres para aprender a história do partido, a doutrina Marxista-Leninista e a organização interna da JCP. São aulas dadas por camaradas. E para camaradas. Laura Laurentino, estudante de 16 anos, justifica a sua presença: "Nem tudo o que nos dizem sobre Salazar e o comunismo é verdade". O curso serve para aprofundar os valores do comunismo e também para autodefesa "contra a ofensiva ideológica da qual somos alvo nas escolas", garante Laura. "Dizem que Salazar foi um bom ministro das Finanças mas depois não dizem que os cofres do Estado estavam cheios enquanto havia taxas de analfabetismo brutais".
Pedro Carruna tem outra justificação: "Às vezes, as coisas que se passam são deturpadas pela comunicação social. Há um boicote à informação. Por exemplo, nas manifestações entrevistam estudantes que parecem que não saber porque estão ali. E não é verdade." A Formação Ideológica surgiu em Portugal logo após o 25 de Abril na Escola do Comunismo, que funcionava num edifício no Lumiar, em Lisboa. Na década de 80, o advogado Domingos Lopes era professor da disciplina Movimento Comunista Internacional. Saiu do partido em Setembro de 2009, depois de 40 anos de militância: "Hei-de morrer comunista. Apesar de não estar de acordo com orientação da direcção do partido, continuo a acreditar num ideal de humanismo."
Antes de aderirem ao partido, os jovens querem saber do que trata a ideologia. Nos livros e na internet procuram as ideias Marx, Lenine e Engels. Há quem leia Estaline, Trotsky e Mao Tsé Tung . E também quem pesquise outras correntes políticas: "Estudei uma série de coisas para ver onde me enquadrava melhor, até partes do "Mein Kampf" [A minha Luta, de Adolf Hitler] para ver o que era o nazismo ao Capital. Como o meu curso é Gestão e Administração Pública, também aproveitei para estudar várias correntes económicas como as de Friedman, Samuelson e Keynes", conta Hugo Freire, de 27 anos.
Nos centros de trabalho do PC, cêtê's na gíria, cruzam-se gerações de comunistas no debate das ideias. No centro de trabalho da Amadora, Hugo Freire e o primo, Nuno Gama Freire, 19 anos, jogam xadrez. Silvestre da Costa, de 80 anos, serve uma bebida a Fernando Ramos, o vereador de 58 anos da Câmara Municipal da Amadora. "Há muita gente que acredita no comunismo mas tem medo. O medo está a voltar a instalar-se", vaticina Fernando Ramos. O frigorífico e o fogão que estão no bar do cêtê da Amadora foram oferecidos ao partido por Silvestre da Costa. Durante três dias por semana, o ex-mecânico serve os camaradas: "Adoro futebol mas, como me calhou o domingo, em seis anos só vi dois jogos do Benfica para poder vir para aqui." Em cima do balcão, uma bola cheia de trocos convida a ajudar o partido: "O partido tem paredes de vidro. Eu sou transparente!"
A independência financeira do PCP é um dos orgulhos dos militantes. Nas eleições de 2009, Nuno Gama Freire esteve, pela primeira vez, nas mesas de voto: "Fiquei mesmo de peito inchado quando assinei o cheque de 70 euros, à frente de todos, em nome do partido". O trabalho dos militantes "é sempre voluntário". Por exemplo, toda a construção da festa do Avante. "Não é voluntariado, chama-se militância. E é uma questão de coerência com o que defendemos. Não faria sentido pertencermos ao partido e não lhe darmos o dinheiro que recebemos. Depois o partido financiava-se como? Ia pedir dinheiro aos capitalistas para depois vir para a rua lutar contra eles?", questiona Hugo Freire. A quotização é a maior fonte de riqueza e também o maior segredo do PCP. Cada militante dá o que pode. "Até pode ser dez cêntimos", diz um militante.
Todos estes comunistas partilham uma visão sobre a economia. Defendem a nacionalização dos sectores chave. E avaliam as crises cíclicas do capitalismo previstas por Marx. "Ser comunista nos dias de hoje é o mesmo que ser há 40 ou 50 anos atrás, o ideal é o mesmo, os objectivos são os mesmos. A sociedade em Portugal mudou muito mas o ideal, e aquilo que o PCP defende, é o mesmo. Agora como há 89 anos atrás, quando o partido foi criado", diz Fernando Ramos, vereador na Amadora. Os lemas épicos, as frases de combate e os ideais de há séculos, como a liberdade e a igualdade, são disparados a cada conversa. Com orgulho.
Dos mais novos aos mais velhos, as mesmas frases repetidas. "Quero uma sociedade sem explorados nem exploradores". "Acredito numa sociedade sem classes, mais justa". "Os que lutam nem sempre ganham, os que não lutam perdem sempre". "Só com a luta de todos vamos conseguir alcançar uma sociedade comunista. É possível. No tempo da escravatura também não se acreditava que era possível." O mantra é comum.
O funcionamento deste partido assenta no "centralismo democrático". O significa que as opiniões se discutem nas bases e vão sendo debatidas pela hierarquia partidária até chegarem à direcção, o órgão que delibera "a favor da opinião da maioria". A opinião maioritária é aquela que, no PCP, tem legitimidade para sair à rua. E é aquela que o militante defende - ainda que possa não concordar. "É o que demonstra a união do partido", defende, os militantes. Os mais jovens, pelo menos.
Porque também existem os comunistas críticos, os que abandonaram o PCP: "Fui sancionado pela posição que tomei de modificação da linha e funcionamento do partido. Queria internamente uma vida mais democrática e o abandono do velho centralismo democrático com o objectivo da admissão de discordâncias. Há partidos com reconhecimento de facções", diz Carlos Brito, antigo militante e ex-candidato presidencial. "Uma diferença de opinião facilmente se torna em dissidência. O centralismo democrático é um filtro porque as ideias oficiais são da direcção e são escrutinadas pela própria direcção. O confronto livre das ideias não existe porque é filtrado por sucessivos patamares de hierarquia", diz João Semedo, que faz parte do movimento renovação comunista e foi eleito deputado, como independente, nas listas de deputados do Bloco de Esquerda. Entrou para o PCP em 1972. Demitiu-se do Comité Central em 1991 e em 1998 abandonou o partido. Foi o ano em que um movimento que pretendia mudar a vida interna do partido foi esmagado pela força do voto e levou à expulsão de vários dirigentes, entre eles Mário Lino, o ex-ministro do PS. Lino entrou no partido em 1964 através do movimento estudantil. Em 1979 bateu com a porta: "A principal desilusão foi o que se passou com a União Soviética. O próprio partido planeou um golpe de estado palaciano para retirar Gorbatchev do poder e o PCP apoiou isso."
"A posição do PCP face ao PS também suscitou sempre uma grande discussão interna. O PCP sempre tratou o PS como uma espécie de inimigo principal, uma barreira que impedia o PCP de subir mais. Depois do 25 de Abril não fazia sentido que o sistema do partido continuasse a ser muito dirigido pelos órgãos deste partido. Havia uma falta liberdade de discussão e uma aspiração muito grande de uma discussão mais aberta", diz Mário Lino. Ainda hoje, a solidariedade internacional impera entre os comunista. À falta de democracia e eleições livres em Cuba, os comunistas portugueses contrapõem a gratuitidade da saúde e do ensino, nunca esquecendo o embargo dos EUA. "O PCP não defende o modelo de Cuba, mas acredita que o povo tem de decidir o seu destino", diz Ricardo Guerra, coordenador da JCP Cascais e Oeiras.
Ricos e pobres, a zona de Cascais e Oeiras são duas das regiões do país com maiores rendimentos per capita. Talvez por isso, o PCP não tem aqui grande influência, sendo que só 20 membros da JCP estão activos. "É mais difícil que pessoas de famílias muito ricas permaneçam no partido, são excepções as que ficam. Mas também essas famílias são muito menos na sociedade", diz Ricardo Guerra, 21 anos, que deixou de dar aulas de natação para ser funcionário do partido. "O comunista não pode ser só o desgraçadinho, o pé descalço, o pão de 15 dias dentro da algibeira e que anda aí a esconder-se para que ninguém o veja. E quem pensa isso está muito enganado", afirma Fernando Ramos, vereador da Câmara Municipal da Amadora.
O PCP tem vindo a perder influência eleitoral desde a revolução de 1974: "O PCP, logo após o 25 Abril, obtinha 20% hoje fica pelos 6%. Não consegue demonstrar capacidade de renovação independentemente de ter pessoas de grande mérito. Como partido e organização está muito maniatado e a tendência é a de ir perdendo influência", afirma Mário Lino. "Não há nenhum partido com um tão grande número de militantes em funções importantes que o tenham abandonado e o PCP paga um preço muito alto por isso", acrescenta o antigo ministro das Obras Públicas.
Mas, para o ex-deputado Carlos Brito, a situação de crise económica que se vive pode ser uma lufada de ar fresco para o partido: "Os ideais do comunismo neste momento têm um novo fulgor devido à crise do mundo capitalista: isso leva muita gente a voltar os olhos para o que Marx dizia. Muitas das soluções que aponta para a humanidade sensibilizam os jovens e o PCP tinha boas condições de uma nova expansão da sua influência mas tem de procurar dar uma resposta mais actual aos problemas." Em tempos de crise as pessoas precisam de dar a volta à situação: "O PCP tem coisas incompatíveis com a religião, o destino está nas nossas mãos e não na mão de Deus. Geralmente, [os comunistas] não são católicos porque não é seja como Deus quiser, não é ter fé, mas sim lutar por uma vida melhor", afirma o coordenador da JCP em Cascais, Ricardo Guerra. E o deputado do BE, João Semedo, ainda hoje acredita que os comunistas estão "do lado certo da vida e da História." Mário Lino, longe dos tempos da disciplina férrea do partido, ainda hoje janta todos os dias 21 de Janeiro com antigos camaradas. "Nesse dia de 1965 foi muita gente presa pela PIDE, incluindo eu. Por esta altura juntamo-nos sempre. Este ano chegámos ao fim do jantar a cantar músicas de intervenção e a recitar poemas contra a PIDE."
"É impossível que os meus amigos me vejam pela rua e não digam "Oh camarada!" Não me chamarem camarada é já não ser eu, já não é a mesma coisa", afirma Nuno Gama Freire. "No momento em que dizemos que somos comunistas já não há volta a dar. Levámos a injecção atrás da orelha e pronto já não se pode desbaptizar. É para sempre."

Bolsa de Lisboa cai a pique

Portugal é notícia lá fora, mas pelas piores razões

Depois de a agência de notação financeira Fitch ter reduzido a notação da dívida portuguesa para «AA-», seguiu-se o impacto nos mercados. Euro regista o pior desempenho dos últimos 10 meses.

Portugal está a ser o protagonista de algumas manchetes dos principais media internacionais. Depois de a «Fitch» ter reduzido o rating da dívida nacional esta quarta-feira, de «AA» para «AA-» os mercados derraparam e o país é notícia, mas pelas piores razões.
O The Wall Street Journal é taxativo: «Fitch reduz notação da dívida de Portugal». O Financial Times fala em dúvidas e receios: «Euro mergulha em dúvidas sobre a ajuda à Grécia. Fitch reduz rating de Portugal, apoiado nos receios sobre crise da dívida da zona do euro».
O país vizinho também reservou um lugar para Portugal nos seus destaques noticiosos. O jornal «El mundo» culpa a Grécia e Portugal pelo recuo das praças europeias, em que o euro está a escorregar para mínimos dos últimos dez meses. «Bolsas e euro caem por causa das dúvidas sobre Grécia e Portugal». O mesmo acontece com o «El País»: «Fitch baixa um nível da qualidade da dívida de Portugal por causa do défice».
A Bloomberg também está a acompanhar a par e passo os efeitos do anúncio da Fitch: «Rating da dívida de Portugal rebaixado pela Fitch», primeiro, e a «tragédia» que se seguiu: «Euro, acções, commodities em queda, preocupados com dívida da Grécia e Portugal».
A Fitch tem dúvidas acerca do PEC português para a recuperação económica. A bolsa portuguesa está a cair a pique depois da agência de notação financeira internacional ter reduzido a notação da dívida portuguesa, tendo mantido a perspectiva «negativa» para a dívida pública. O principal índice de referência em Lisboa, o PSI20, derrapa 2,02 por cento para os 7.917,12 pontos, com todos os títulos a transaccionarem em terreno negativo.

Banca é o sector mais castigado porque é também o mais exposto

A bolsa em Lisboa estava a cair a pique depois da agência de notação financeira internacional, Fitch, ter reduzido a notação da dívida portuguesa para «AA-», tendo mantido a perspectiva «negativa» para a dívida pública. O principal índice de referência em Lisboa, o PSI20, derrapa 2,02 por cento para os 7.917,12 pontos, com todos os títulos a transaccionarem em terreno negativo.
Lisboa apresenta o pior desempenho em todo o mundo, numa altura em que o corte do «rating» da dívida portuguesa também já se sente lá fora. As principais praças do Velho Continente, que seguiam positivas no início da manhã, inverteram de imediato para terreno negativo. Seguem com perdas que oscilam entre 0,04% e 1,55%.
Por cá, destaque pela negativa para os títulos da banca, que são os mais sensíveis, já que este é o sector mais exposto ao custo da dívida portuguesa. O BES afunda 3,83% para os 3,86 euros, o BCP cai 3,41% para os 0,79 euros e o BPI cede 2,5% para o1,91 euros. Entre os pesos pesados da praça, a Portugal Telecom recua 2,22% para os 8,17 euros e a EDP escorrega 1,12% para os 2,82 euros. Nota ainda para os títulos da Galp que deslizam 1,43% para os 12,68 euros. E nem o anúncio de que os testes lançados no poço de no Tupi, no Brasil, que comprovam uma «altíssima produtividade» consegue animar o título.
Já a Cimpor cede 1,13% para os 5,47 euros, no dia em que a Caixa Geral de Depósitos vai decidir, em reunião do Conselho de Administração, quem será o próximo presidente não executivo da Cimpor. Mário Lino é o nome mais falado. Nos Estados Unidos deverão ser divulgados dados macroeconómicos de relevo, que dizem respeito aos bens duradouros e à venda de casas novas na maior economia do mundo.

Protesto na Universidade do Algarve

Alunos queixam-se de serem usados como cobaias

Faculdade abandonou as aulas semestrais e passou a avaliar os alunos por módulos.

Os alunos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve queixam-se de estar a ser cobaias de um sistema que fez disparar a taxa de reprovação e exigem que sejam repostas as aulas em semestres.
A Faculdade funciona com base num sistema de módulos de oito semanas, o que de acordo com os alunos impossibilita a realização de uma avaliação contínua e prejudica a aprendizagem por ser demasiado intenso. A universidade reconhece, por seu turno, que o sistema, implementado no ano lectivo de 2006/2007, não tem funcionado como seria desejável e já anunciou a reposição da organização das disciplinas em semestres para 2011/2012.
O sistema de módulos foi implementado no ano lectivo 2006/2007 com blocos de cinco semanas, tendo este ano lectivo a duração dos módulos sido alargada para oito semanas, por se ter verificado que o tempo era muito curto. Contudo, apesar de a organização das disciplinas ser diferente, Rui Cabral e Silva rejeita que os alunos da FCT estejam a ser cobaias e diz que o sistema de avaliação é igual em todas as faculdades da universidade.

Ministro reconhece atrasos «inaceitáveis» nas bolsas, mas rejeitou qualquer responsabilidade da tutela

O ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, reconheceu «atrasos excessivos e inaceitáveis» na atribuição de bolsas de estudo, mas rejeitou qualquer responsabilidade da tutela na transferência de verbas para as universidades e politécnicos. «Face a atrasos excessivos e naturalmente inaceitáveis no interesse dos estudantes procurámos ajudar as próprias instituições a superar as razões desses atrasos», afirmou o ministro, durante uma audição nas Comissões Parlamentares de Educação e Ciência e Orçamento e Finanças, no âmbito do Orçamento de Estado para 2010.
No seu discurso inicial, Mariano Gago assegurou que da parte do seu ministério «não houve, não há, nem haverá» quaisquer atrasos na transferência de verbas justificadas pelas instituições para pagamento de bolsas de estudo. «Hoje, o Estado já apoia com bolsas de estudo mais de 21 por cento do total dos estudantes do Ensino Superior. O aumento da dotação orçamental para a Acção Social do Ensino Superior em 2010 concentra-se num esforço adicional de 16 milhões de euros na dotação disponível para bolsas de estudo», acrescentou.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior lembrou que o Governo decidiu estipular prazos limitados de resposta aos pedidos de bolsa, renovação ou alteração, e criou uma plataforma que permite dispensar documentos aos serviços e aceder a informações relevantes noutros serviços públicos. «Decidimos adoptar um modelo de contratualização plurianual da atribuição da bolsa de estudos por todo o período do ciclo de estudos», afirmou Mariano gago, anunciando que o mesmo estará em aplicação «no início do próximo ano lectivo».
O Bloco de Esquerda criticou o não alargamento dos critérios para atribuição de bolsas e exigiu um maior investimento nos serviços de Acção Social Escolar das instituições, exemplificando com um caso de quatro funcionários que todos os anos têm de analisar mais de nove mil processos. Mariano Gago anunciou também a intenção de reforçar as condições de apoio hoje previstas para estudantes bolseiros que tenham necessidade de se deslocar por força da frequência de estágios curriculares.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Portugal à beira da loucura

Somos o país da Europa com mais doentes mentais

Maioria dos casos graves nunca recebeu qualquer tratamento, revela o primeiro estudo nacional. Os dados já recolhidos permitem perceber que a diferença entre Portugal e os restantes estados europeus é abissal.Os dados já recolhidos permitem perceber que a diferença entre Portugal e os restantes estados europeus é abissal.

Os números apanharam de "surpresa" o próprio coordenador nacional para a saúde mental, Caldas de Almeida. Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população e aproxima-se perigosamente do campeão mundial Estados Unidos. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida. Para um grande mal, poucos remédios: 67% dos doentes graves estão sozinhos com o seu problema e nunca tiveram qualquer tratamento.
As conclusões são do primeiro estudo nacional sobre saúde mental, liderado por Caldas de Almeida, da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa. O psiquiatra e também coordenador nacional para esta área explica a falta de tratamento por dois factores: "O estigma social que leva as pessoas a terem vergonha de procurar um médico e ao mesmo tempo a ausência de serviços especializados próximos, que cria dificuldades de acesso." Esta ausência de acompanhamento terapêutico contrasta com o elevado consumo de anti-depressivos e ansiolíticos. Como se explica a contradição? "Provavelmente temos pessoas que não precisam a tomar estes medicamentos e os que realmente precisam a não tomar nada", adianta.
Do total de portugueses com perturbações mentais, 6% apresentam quadros graves - nesta categoria os especialistas colocam a doença bipolar, as que levam a perda de capacidades e as que resultaram em tentativas de suicídio. Os médicos de família, nos centros de saúde, são o recurso mais comum. Nas doenças graves, acompanham quase metade dos doentes (47%), enquanto que os serviços especializados de saúde mental ficam pelos 39%. Isto apesar de Caldas de Almeida sublinhar que para estes pacientes isso não chega, "seguramente vão precisar de cuidados especializados". Também a grande maioria das patologias de gravidade moderada estão sem qualquer tratamento (65%) e as ligeiras que estão por acompanhar chegam aos 82%.
As perturbações mais comuns são as da ansiedade, com 16,5%, que em 3,2% dos casos assume proporções graves. "As pessoas costumam pensar que a depressão é que é grave, mas esquecem-se da ansiedade. Muitas vezes tem consequências também de grande gravidade", refere o coordenador do estudo. Neste conjunto, o mais comum são as fobias a situações específicas, com 8,6%, seguidas da perturbação obsessivo-compulsiva (4,4%). As depressões atingem 8% do total e, dentro destas, os bipolares representam 1%. Para uma segunda fase ficam as doenças psicóticas, como as esquizofrenias. Por terem uma dimensão menor, os casos não foram apanhados neste levantamento. Nas perturbações do controlo dos impulsos, 1,8% dos doentes têm explosões interminentes. O comportamento irado de alguns portugueses ao volante é o exemplo para a manifestação desta perturbação. Caldas de Almeida sublinha ainda que a hiperactividade/défice de atenção, normalmente associada às crianças, tem também expressão nos adultos: representa 0,4% das perturbações do controlo dos impulsos.
O estudo português integra um projecto liderado pela Universidade de Harvard e pela Organização Mundial de Saúde, que reúne 30 países. Estes são ainda os dados preliminares e, de acordo com os investigadores, muita da informação recolhida tem ainda de ser analisada. Um dos grandes objectivos é traçar o diagnóstico para depois adaptar os serviços de saúde às necessidades destes doentes. Os dados já recolhidos permitem perceber que a diferença entre Portugal e os restantes estados europeus é abissal. Aos 23% de prevalência nacional, Espanha contrapõe 9,2%, Itália 8,2% e a Bélgica 12%. Próximo do diagnóstico português apenas está a Ucrânia, com 20,5%. "É um padrão atípico", admite Caldas de Almeida. No caso das doenças graves, Portugal supera os 6%, enquanto que os outros países do Sul se ficam por 1%.
Para explicar a complexidade deste levantamento (feito em parceria com o centro de sondagens da Universidade Católica), Miguel Xavier, outro dos responsáveis pelo estudo, divulgou alguns números: 3849 entrevistados com mais de 18 anos, 150 entrevistadores, duas horas médias para cada entrevista e algumas a chegarem às quatro horas, seis anos desde o arranque do projecto. Pedro Magalhães, da Católica, refere que "foi o maior e mais complexo estudo" daquele centro.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ketamina - A nova droga das festas

A nova droga é um anestésico para cavalos

Dois jovens britânicos morreram esta semana por consumirem "miau miau". Por cá o que está a dar é "Special K", mas a Polícia de Segurança Pública desconhece o que é.

Tiago, um estudante de 23 anos, nunca se esquecerá do jantar em casa de um amigo que se transformou na festa mais caótica da sua vida. Depois do arroz chau-chau, a sobremesa veio numa bandeja e foi cozinhada à sua frente: ketamina, um líquido transparente usado como sedativo de cavalos. "Um amigo tinha arranjado o frasco num veterinário e cozinhou o líquido numa frigideira até ficar em pó", conta Tiago, que já tinha experimentado o fármaco como droga recreativa em festas de música electrónica. Quando a ketamina ficou pronta a ser inalada, foi servida numa bandeja às cerca de 20 pessoas da festa, todas entre os 18 e os 25 anos. "A maior parte nunca tinha experimentado, nem sequer sabia que aquilo existia", recorda. "Mas este amigo conseguiu convencer toda a gente a consumir." Cinco minutos depois, o tempo que a ketamina demora a fazer efeito por via nasal, muita gente cambaleava pelo corredor do andar das Avenidas Novas, em Lisboa, e entornava cervejas sem querer. "O efeito é como se fosse uma bebedeira psicadélica", diz Tiago, "em doses médias ou altas sentimo-nos descoordenados, andamos em câmara lenta e ouvimos sons distorcidos. É uma viagem num túnel um bocado estranho.
"Entre amigos, Tiago refere-se à ketamina como catamina, cata, catarina ou até cavalo. "Oh Catarina, vais dar na catamina?", brinca, como costuma fazer com a namorada de um amigo, também ela consumidora habitual. Em Inglaterra e nos Estados Unidos, a droga ganhou vários nomes, entre eles o de cereais e chocolates: K, Special K, Kit-Kat ou vitamina K.
Na festa chamavam-lhe cata e os efeitos foram sentidos por todos. "A droga que é vendida na rua leva um corte qualquer com Aspegics e outros pós. Esta foi cozinhada ali mesmo, vinha pura e, por isso, era muito forte", conta Tiago. Não se lembra de muitas partes da noite, até porque a ketamina faz com que o "cérebro fique muito desorganizado e desassociado do corpo". Mas de um episódio não se esqueceu: "Quando abri a porta de um quarto muito pequeno, estavam 20 pessoas a dançar a 'Lambada' em cima da cama e da secretária. O meu amigo tinha a bandeja numa mão e um cartão para fazer riscos na outra. Foi o caos."

Ketamina vs. miau-miau - Em pequenas quantidades, a ketamina tem um efeito estimulante como o ecstasy e a cocaína. É cada vez mais procurada em discotecas. Segundo o relatório publicado em Fevereiro pelo Órgão Internacional de Controlo de Estupefacientes (OICE), o tráfico de ketamina está a crescer na Europa, principalmente em Espanha e Inglaterra. Em Portugal não há dados oficiais, mas segundo Paula Andrade, do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), "há dois anos tivemos registos de consumo". Ao contrário do "miau-miau", um fertilisante de plantas que matou esta semana dois jovens britânicos e encheu capas de jornais: "Não sabemos de nenhuma ocorrência de consumo de miau-miau nem tivemos pedidos de ajuda de nenhum hospital." Quanto à ketamina, o IDT distribuiu em 2008 postais gratuitos com informações sobre os efeitos da substância, mas o consumo ainda não tem "relevância estatística".

A droga de Madonna - Na última década, o consumo deste químico triplicou no Reino Unido, tornando-se muito popular junto das classes altas. Não que a droga seja cara e glamourosa, ou não fosse um tranquilizante muito usado em cavalos e também em pessoas com dores agudas. Um grama custa entre 15 e 20 euros, menos de metade do preço da cocaína, mas os seus efeitos são mais pesados. Em 1998, Madonna confessou à revista "Q" que não percebia porque é que nas discotecas britânicas ainda preferiam consumir ecstasy: "A ketamina é a grande droga aqui [nos EUA]. É como se nadasses para fora do teu corpo sem saber se vais acordar de manhã." Na mesma entrevista, revelou também que o seu álbum "Ray of Light" soaria melhor sob o efeito de drogas. Em 2006, o consumo de ketamina já era tão preocupante no país, que o governo britânico ilegalizou a substância e a sua posse passou a ser punida com dois anos de prisão. Em Portugal "só pode ser vendida com receita médica", explica Paula Andrade, do IDT. Fora isso, não há legislação adicional

A droga do Vietname - Lucindo Ormonde, director do serviço de anestesiologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, considera a ketamina "o fármaco ideal num cenário de catástrofe". A substância, desenvolvida em 1962 como um anestésico dissociativo (que separa a mente do corpo), foi muito usada na guerra do Vietname, antes de ser usada para fins veterinários. "Injectada intra-muscularmente tira as dores de imediato e provoca inconsciência sem retirar a capacidade respiratória", explica. Na anestesia, a ketamina "estava praticamente abandonada", mas nos últimos está a "ressurgir em força com novas aplicações e muito bons resultados, principalmente a nível pós-operatório", afirma o anestesiólogo. Os efeitos anestésicos e analgésicos da ketamina duram cerca de uma hora, dependendo da dose administrada. "É utilizada como sedativo em crianças e adultos para controlar dores crónicas e agudas."Inalada como droga alucinogénia pode conduzir a "problemas físicos e mentais profundos", explica o médico. Alucinações, alterações de visão, falta de ar, amnésia, dificuldade em controlar os movimentos fazem parte da lista. "O consumo inapropriado deste fármaco misturado com álcool pode também causar overdose."No hospital, não tem conhecimento do desaparecimento de frascos de ketamina para venda ilícita: "Mas estas coisas não acontecem nos hospitais. O mercado negro é que deve andar fluorescente com isso."

Tráfico em Portugal - O relatório anual do OICE refere a multiplicação de sites de venda ilícita de ketamina, sobretudo na Ásia, onde os maiores consumidores têm entre 14 e 25 anos. Em Portugal, segundo o gabinete de imprensa da PSP, "não está registada qualquer apreensão da droga e a PSP desconhece a sua utilização". A verdade é que ela existe."
É mais difícil de arranjar do que MD [ecstasy] ou coca", diz Diogo, 24 anos, baterista. "Mas arranja-se. Tinha de percorrer muitos contactos e falar com muitas pessoas com antecedência se quisesse para uma festa." A primeira vez que consumiu foi em casa, num jogo de poker entre amigos. "Um deles tinha. Dei um risco mas não bateu. Depois alguém entornou no tapete de poker e tivemos de cheirar até aquilo sair", conta. "Quis levantar-me mas já não consegui, não sentia as pernas nem os braços, aquilo é um bocado delirante."Ao todo, Diogo consumiu ketamina três vezes, duas delas em festas trance. Tiago também experimentou pela primeira vez numa festa ao ar livre há 3 anos. "Estava com um amigo que na altura traficava e tinha bastantes gramas para vender", recorda. "Foi a droga que consumimos mais, mas também misturámos MD, speed e ácido... um grande cocktail químico."

(os nomes usados no artigo são fictícios)